Consciência e responsabilidade — A Biblioteca da Meia Noite

Camila Berteli
4 min readJan 31, 2024

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Bem-vinda, bem-vindo ao Mundo das Escolhas!

Fui convidada a fazer uma resenha do livro best seller (líder de vendas), alvo de polêmicas nas redes sociais sobre ser ou não literatura e vim compartilhar como uma leitura aparentemente simples, carrega temáticas complexas e muito caras a áreas como psicologia e filososia.

O livro, escrito pelo romancista e jornalista britânico Matt Haig está entre os mais vendidos desde o seu lançamento em 2020, com mais de 1 milhão de cópias no mundo. Venceu o Prémio Goodreads para Melhor Livro de Ficção e foi finalista dos British Book Awards.

A reflexão é, a já apresentada por Paul Sartre: Estamos condenados a ser livres e lidar com as consequências das escolhas que fazemos!

Ao começar a ler a Biblioteca da Meia Noite somos inundados pela condenação por existir de Nora Seed a protagonista. Ela não escolheu estar viva, mas existindo, carrega a responsabilidade pelas suas escolhas e isso é demais para ela.

Este é o nosso fardo. Existir nem sempre é uma tarefa fácil. Carregamos a responsabilidade de construir uma essência e uma história por meio das ações que temos no mundo, ações essas, que se traduzem em escolhas.

É interessante acompanhar Nora pelas suas infinitas vidas e como cada uma carregava a essência de uma vida sem intenção, mesmo quando aparentemente, ela tinha feito uma escolha melhor do que a que fez em sua vida principal. Aí percebemos que viver pode mesmo ser muito cruel. Deixo aqui um recado importante, este livro possui conteúdo que pode se tornar gatilho emocional para algumas pessoas , se precisar pare de ler e busque apoio.

A cada capítulo e salto entre vidas que Nora dá no livro, criamos uma torcida que a acompanha. Uma expectativa de que em algumas delas ela pudesse ser mais inteira, pois a sensação é que sempre faltava um pedaço em tudo que fazia e era possível ver que, apesar de viver histórias diferentes, variantes de si mesma, o comum era: ela nunca achava o que faltava.

Essa falta era mesmo de muitas coisas: coragem, empatia, afeto, sensibilidade, esperança, mas principalmente consciência de quem ela era nisso tudo.

“Quantas vezes acreditamos que a mediocridade e a decepção eram o seu destino”

Começamos um processo que é de Nora, mas que serve para cada um nós. Quando não termos a menor noção de quem somos, acabamos levados pelo desejo de ser o que não se é. Por isso, acabamos sendo muito pouco. Quantas vidas você construiu com Nora Seed?

O livro nos convida a ser atleta olímpico, professora em Cambridge, pesquisadora e até astro do rock. Com isso projetamos as nossas próprias escolhas que também não foram assim as melhores. De um jeito bem direto o autor deixa claro — a vida, assim como os livros dessa biblioteca, não pode ser foleada mais de duas vezes.

“Você não precisa entender a vida, precisa apenas vivê-la.”

Precisa querer vivê-la! De alguma forma, somos todas as nossas escolhas. As que fazemos e as que não fazemos. Somos o caminho elegido, somos o erro escolhido, somos o acaso, somos um infinito de possibilidades e isso na maioria das vezes, nos dá mais medo do que desejo de viver.

Vem então a mensagem central deste livro, na vida somos as possibilidades realizadas e não a promessa do que poderia ter acontecido. O autor começa a construir um novo olhar sobre todo o sofrimento experimentado pela protagonista. O que não somos não deveria nos consumir, deveria sim, nos inspirar.

Somos tudo que podemos fazer quando “arregaçamos as mangas” e fazermos isso sem fugir de nós mesmos. Não se pode idealizar uma vida baseada em escolhas felizes em nenhum multiverso. As escolhas nos proporcionam viver com dores e alegrias.

Nora percebe que sofrer, sorrir, amar, morrer, acreditar e se desiludir são facetas de uma vida completa, que é vivida a partir de um estado de consciência do caos e da incerteza. Que é a partir da escolha em poder vivenciar tudo isso que seguimos existindo.

Gosto de que mesmo com um final esperado o livro faz um convite para a responsabilidade. O Autor, tendo ele mesmo vivenciado episódios depressivos em sua vida, deixa aqui um lembrete– não fuja de si mesmo — cuide da sua paisagem seja ela um campo fértil ou uma seca. Se permita ser também cuidada, ninguém é feliz sem uma rede de apoio, busque reconhecer quem faz parte da sua.

A biblioteca da meia Noite vale a leitura por ser um relato real mesmo rodeado de fantasia e deixa a ideia de que sempre é possível abrir outro livro, ou outra forma de viver.

Com Nora e a Biblioteca da Meia Noite entendemos que nem sempre precisamos entender completamente a vida, mas com certeza precisamos vivê-la.

Além deste texto deixo um vídeo complementar que comento com mais elementos da psicologia sobre o livro.

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Camila Berteli

Psicóloga, rebelde, nerd, educadora, freudiana e potterhead. Apaixonada por livros, cinema, arte, filosofia, história e pessoas!